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Eu sou o sujeito. A cadeira é o objeto. Não sei a sua cor, não a conheço especialmente. Não faço a menor ideia do que ela é, e nunca vou saber. É conhecida, mas não a conheço… Nem sei se ela existe! Ela sempre aqui esteve, está aqui agora, mas só agora é que reparo, é que me concentro nela. Não faço ideia se ela se mexe sozinha quando viro as costas, não confio nela e não pretendo confiar, no entanto sento-me nela todos os dias. A minha relação com a cadeira nunca me foi relevante, e não é agora que irá começar a ser. A cadeira é o que eu quero que seja, e nada mais para além disso.
Íris Veiga
Em 2002, a UNESCO, durante a 33ª sessão da Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação Ciência e Cultura (UNESCO), instituiu a celebração do Dia Mundial da Filosofia na terceira quinta-feira do mês de Novembro de cada ano, ciente da importância que o questionamento filosófico assume para o diálogo entre os povos.
Mensagem de Irina Bokova, diretora-geral da UNESCO, por ocasião do Dia Mundial da Filosofia, 20 de novembro de 2014:
“O Dia Mundial da Filosofia oferece uma oportunidade para enfatizar mais uma vez a importância do pensamento crítico para a compreensão das mudanças na sociedade contemporânea. A mudança força-nos a encontrar novas formas de conviver e construir sociedades mais justas, mas também pode corroer a confiança e provocar tensão. Nessas circunstâncias, a filosofia é uma preciosa aliada, que se baseia no raciocínio reflexivo e engajamento no diálogo, para abrir nossas mentes a uma ampla variedade de opiniões e pontos de vista. Essa mudança de foco é crucial em um mundo de diversidade crescente. Isso é o fundamento sobre o qual a tolerância e a paz repousam, bem como um meio de liberar a energia criativa que faz as sociedades avançarem, respeitando os direitos humanos.”
Tese de Filosofia
“Defender o Indefensável”
Viver das Aparências
“O meu nome tem origem no Latim, vem de APPARENTIA, de APPARERE, que significa surgir, aparecer, mostrar-se, apresentar-se, fazer-se visível. Segundo o dicionário da língua portuguesa, sou o aspecto ou aquilo que se mostra superficialmente ou à primeira vista. Mas no fundo sou a armadura que protege a personalidade da selva a que muitos chamam Terra. Sou a aparência.”
Para um mundo que julga, distingue, que diferencia em função de determinados modelos de comportamento, e até de aspecto exterior, nada mais lógico que nos entregarmos de corpo e alma ao conceito: viver das aparências.
Hoje em dia a vida acaba por ser uma busca sedenta por sucesso. E, por isso, há que manter uma certa aparência, um véu que separa o “mundo de feras” do verdadeiro “eu”. Senão não sobreviveria ninguém a constantes atentados e julgamentos por parte do outro.
Porquê mostrar o que és, se podes mostrar aquilo que querem que sejas? Afinal de contas, para quê tentar escapar de estereótipos aos quais facilmente te adaptas? Da religião à moda, das amizades às festas, da família à educação é-se vítima de certos padrões impostos pela sociedade e em vez de tentar vencê-los, ou de tentar enfrentá-los, deve ser feita uma adaptação ao habitat em que se reside de forma a sobreviver com sucesso. Vestires certas marcas, relacionares-te com aquelas pessoas, estar naquelas festas, ir à igreja, tirar boas notas, no fundo, apresentares ao mundo o verdadeiro sonho de personalidade é como se estivesses protegido de qualquer predador: não há pontos fracos evidentes. Funciona como camuflagem.
Viver das aparências assemelha-se a viver coberto por um manto de invisibilidade, ocultam-se fragilidades e características do “eu”. Sobreviver é o objectivo, é o pote recheado de lingotes de ouro no final do arco-íris. Sim, porque a seguir à tempestade que é esconder ambições, gostos e ideias, vem a bonança, denominada por muitos de “sucesso” e “felicidade”.
Como dissera outrora o príncipe de Marcillac, François de la Rochefoucauld “O mundo recompensa com mais frequência as aparências do mérito do que mérito em si.” Os que vencem são aqueles que iludem o mundo. Funcionam quase como artistas da arte barroca: tal como o pintor usa a obra para atrair os que a contemplam através de riqueza e forte sedução, o individuo utiliza a sua imagem. Uma boa aparência é uma mais valia, e os que se deparam com ela sentem-se tentados a ser iguais.
É claro que exige esforço guardar a essência do ser, opiniões e crenças. Mas limitar o pensamento de forma a reflectir de forma semelhante ao outro acaba por simplificar a estadia nesta realidade surreal. É mais fácil vestir uma pele que não a nossa, mas que seja bem aceite pela sociedade.
Se está enraizada a nível global uma sociedade que tende a moldar e esbater a individualidade, porquê lutar contra a maré? Viver das aparências é engenhoca quase certa para atingir sucesso, é fornecido aos olhos dos outros a imagem desejada e saímos ilesos num confronto corpo-a-corpo com o mundo doido em que habitamos.
O importante é aparentar uma vida cheia de cores e sabores. Já dizia Maquiavel “Todos vêem o que pareces e poucos o que és”, mais não podia ter dito o historiador, porque o que verdadeiramente é valorizado corresponde à nossa imagem e à mensagem que transmitimos através do nosso aspecto, atitudes e estilo de vida. E como consequência, muitas vezes surgem oportunidades que de outra forma nunca iriam surgir.
“A minha existência começava a espantar-me seriamente. Não seria eu uma simples aparência?” Friedrich Nietzsche
Rita Henriques
11ºC, nº15